Vida Continuada

pq ela continua, independente

Nome: Miguel Young
Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

28.2.07


mas em mim ainda restam lâminas

Sobre Miguel


na verdade, percebo agora que dele tenho muito

aquietado em lagos escuros e profundos, uma influência silenciosa definindo décadas, ondas cegas moldando a rocha

ideais
minha fome por heróis

I need a father. I need a mother.
I need some older, wiser being to cry to.
I talk to God, but the sky is empty, and Orion walks by and doesn't speak.
Sylvia Plath

Sobre Tamanhos


de uma boca escura, dos dentes partidos
dos olhos embranquecidos, dos ouvidos quase surdos
uma escada que desce, promesas antigas
o negrume sem calor ou frio
quem está no fim? qual das mãos me espera, estendida?

desde antes, uma matriz conspurcada.
de onde vem a força? de onde vem a idéia da possibilidade?
minhas fronteiras selvagens resistem, sempre vão resistir
abandonado o paradoxo, aceita a dicotomia, o que me resta?
quem sou eu sem a minha dor?

..

vícios de linguagem e de sentir
tudo tão ultrapassado

..

o tempo passou, mesmo para mim, que sempre me senti tão lapidal
tudo mudou, mesmo que para permanecer

muitos ciclos, muitas reinvenções
não sou mais o que começou, não sou mais a metamorfose
não tenho mais versões

a vida se provou enorme

..

do meu avô materno, tenho pouco
manhãs à beira da piscina, regata branca, calça de pijama, chapéu de palha, voltas e voltas
a televisão e a cama, tv bandeirantes e o futebol, uma poltrona de couro encarquilhado
iodo na ponta dos dedos
meu ideal de biblioteca, parede enorme e livros de ponta a ponta, "a poeira ajuda na preservação dos livros", coleção de dicionários, um deles de truques mágicos, em francês

uma ex-libris que dizia ser possível saber o tamanho do universo se soubéssemos o tamanho do homem

e a vida se provou enorme

5.2.07

Sobre a Memória


se fosse assim, esse lugar, teria pedras umidas de musgo, teria cipós, trepadeiras e osmoses.
teria grama orvalhada, mosquitos as seis e um pássaro que canta o começo do dia.
teria uma curva para a direita, numa ladeira, mata adentro.

lá do começo me vem tudo isso, a cerca branca, as paredes de madeira, os sofás, tantos, e suas salas, seus abajures, a prataria, louça azul e copos de haste, coca-cola em garrafas de um litro.
campainha embaixo da mesa, o cardápio nas mesmas baixelas, barulhos vindos daqueles espaços contra os quais todo o resto será comparado.

tenho em mim os armários antigos, caixas e bolsas, cornucópias que me trouxeram aqui, tão dentro de mim.

tenho em mim a leveza dessa história.
tenho em mim as cigarras.
tenho em mim o silêncio e as sombras do fim do dia.