Vida Continuada

pq ela continua, independente

Nome: Miguel Young
Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

25.4.07

Sobre Falcões


The Second Coming
W. B. Yeats

Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all convictions, while the worst
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?

9.4.07

Sobre o Frio


como é possível gostar tanto de uma cidade que tanto maltrata?
das suas avenidas hemorrágicas em sua morte lenta, do massacre diário até o recolhimento das sobras, como é possível?

é o frio, eu respondo
o frio que permite

Sobre um Rio


aqui tenho algumas plantas
pouca vista, paisagem escassa, é verdade, mas tenho conforto, e as coisas soam como vindas de mim

lembro das paradas anteriores
um banco de areia, numa curva
uma pedra muito dura, com alguma maciez no musgo
e antes, o primeiro galho, o primeiro lugar onde pude me levantar acima da linha d'água

no começo, respirar era a única agenda, alguma forma de escapar do sufocamento
meu mérito era o ar
depois, meus pulmões cheios não eram suficiente, queria meu corpo por inteiro, queria secar tudo que ainda vivia submerso, evaporar cada gota.
meu mérito seria o sol

nessa época ainda não percebia inteiramente os custos de uma esperança, muito menos os verdadeiros riscos de tentar

nas primeiras percepções de felicidade, deformadas em mim, tudo valiosamente frágil, um castelo de cartas e um ventilador

para responder à vontade, precisava me deixar levar, talvez submergir novamente, talvez afogar, enfim

do galho para a pedra, da pedra para a areia, o processo se repetiu, mas eu não
não me dispus as mesmas dores
gosto de pensar que cresci, que descobri a incrível capacidade de boiar, que entendi a dinâmica dos fluxos

não sei se afoguei alguém no frenesi pela superfície, e, sinceramente, não me acredito mais tão capaz, tão poderoso
as ondas me ensinaram
e deixei de me importar

agora tenho algumas plantas e algum conforto
estou seco há muito tempo, deixei o sol lidar com os resquícios do percurso
me cerquei de mim mesmo

e, no entanto, as águas escuras me chamam
escuto meu nome nas ondas

minha pele seca e o meu passado
entendemos, afinal, a beleza da umidade