Vida Continuada

pq ela continua, independente

Nome: Miguel Young
Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

16.7.07

Sobre uma Porta Branca, que vibra quase imperceptivelmente


porta número 10, porta número 11... mais alguns passos, porta número 12, porta número 13, 14 e 15.
porta número 15, esse é o número certo. 15.
nada de diferente das outras portas, além do fato de ser a décima quinta. não sei exatamente pq a escolhi. não sei se escolhi, na verdade, mas uma vez escolhida, me parece perda de tempo exigir os porquês.

de volta a porta, ela é branca.
os números, cobre falso, daqueles que são de plástico, cor asa-de-barata. os números serifados, naquele estilo portão de casa, arrojo em fôrmas.
me parece que uma vibração vem do outro lado, mas nada muito perceptível. uma certa vida, por assim dizer, vibrando nas dobradiças, mas nada muito perceptível. posso até imaginar alguns significados, posso me colocar no centro de uma história, onde o pulsar vem pesado de significados, e cada variação de tom guarda uma mensagem secreta, de decifração impossível, mas a vibração não é assim tão perceptível.

uma vez diante da tal porta, branca, com números em cobre-falso, vibrando, mas nem tão perceptivelmente assim, me resta decidir o próximo passo. quantos passos são possíveis diante de uma porta branca vibrando discretamente?

- bater educadamente
- abrir de supetão
- abrir com cautela
- colar o ouvido para saber se alguém está
- dar meia volta e ir embora
- sentar, costas apoiadas no branco que vibra quase imperceptivelmente, e ponderar sobre a natureza das portas brancas

portas brancas poderiam ser uma metáfora do inefável.
não uma metáfora sobre o inefável, mas uma metáfora criada pelo inefável. uma porta branca, a décima quinta, pode guardar tudo dentro de si.

--

esta porta número 15, branca, com uma vibração quase imperceptível, tem um aparato de abertura.
digo aparato de abertura, ao invés de maçaneta, pq maçaneta é pouco para o aparato de abertura. existe uma maçaneta, sim, mas ela se encontra no centro de um halo branco e gelatinoso, pontilhado de pequenas manchas dançantes que são, na verdade, infinitas pupilas histéricas. este halo me parece, acreditem, com fome. fome de identificar, de cumprir sua função, e mais que isso, fome pela falta de propósito. a saciedade dos justos cumpridores do seu quinhão.
para abrir a porta, é preciso colocar a mão no centro do halo, para assim alcançar a maçaneta. no intervalo entre o começo da mão e o segurar da maçaneta, enquanto vc abre espaços na quase-carne translúcida, todos os seus sonhos são contabilizados, classificados e armazenados. suas conexões para a felicidade são especificadas e, no fim, o aparato de abertura sabe. sabe a ponto de renegar sua mão, numa lição dolorosa para aqueles que tentaram a porta que não lhes pertencia.

agora, diante da porta branca, número 15, de vibração quase imperceptível, e aparato de abertura cruelmente surreal, me pergunto o que fazer.

Sobre 29


bem-vindo aos 29, miguel

momentos, sob momentos
e dias, após outros dias
e sombras brancas, e gólgotas pelas paredes, agrilhoado pelos punhos e tornozelos, com o coração devorado a cada fim de dia, Prometeu de minha megalomania.

meus fronts
sempre meus fronts e suas trincheiras.
cavadas na pele, endurecidas de sangue pisado, testemunhas de guerras sem nome, provas das minhas vitórias, estigmas das minhas derrotas.

o front do erro, do desvairo, do irreparável.
o front da irresponsabilidade, da vergonha, do inegável.
o front das exigências, para sempre impossíveis.
o front dos espaços externos, gelados, inóspitos e imensuráveis.
o front do meu amor.

--

compreendi.
compreendi sem palavras, compreendi num átimo.
compreensão inexplicável.
mas compreendi.

não fico mais tão triste, não fico mais tão ancorado em sombras, minha felicidade se descolou daquele momento e seguiu adiante, coágulo por artérias, atrasada, descompassada com meu presente, mas resoluta, definida desde sempre em sua função de morte
- sim, acredite, estou a ponto de te alcançar, portanto não desista, e dance, igual ao livro, igual ao oráculo, igual a fantasia, dance até seu coração explodir, até se dissolver em tudo, até se esvanecer em silêncio, até alcançar a amplitude branca que foi prometida. ela será sua, um dia.

um dia qualquer.
e, até lá, nos fronts, guerreando pelo silêncio, guerreando por vc.

2.7.07

Sobre Dissonância Cognitiva


Cognitive dissonance is a psychological term which describes the uncomfortable tension that may result from having two conflicting thoughts at the same time, or from engaging in behavior that conflicts with one's beliefs. More precisely, it is the perception of incompatibility between two cognitions, where "cognition" is defined as any element of knowledge, including attitude, emotion, belief, or behavior.

The theory of cognitive dissonance states that contradicting cognitions serve as a driving force that compels the mind to acquire or invent new thoughts or beliefs, or to modify existing beliefs, so as to reduce the amount of dissonance (conflict) between cognitions. Experiments have attempted to quantify this hypothetical drive. Some of these examined how beliefs often change to match behavior when beliefs and behavior are in conflict.