Confesso que me perdi durante algum tempo nas dobras desse processo, tomando vaidade por motivo, pensando que retorno era redenção.
Escrever passou a ser fome, e como todo faminto, justifiquei meus meios com o fim. Também como todo faminto, me contentei com restos. E como todo faminto, depois de um longo período de jejum, morri ao finalmente comer, meu corpo desacostumado com a digestão.
Outra fase de silêncio se seguiu.
Cada uma com sua própria marca, sentido e duração, mas todas constantes na ausência.
Agora meu talento goteja, a capacidade transborda, e a necessidade cala, enfim, me permitindo perceber que meu rastro não é raso nem facilmente eliminado. Isso tem um preço, e me faltava estofo para tanto, para suportar os retornos, digerir e interpretar.
Todos os tocados, todos os marcados, todos os que foram traçados e cortados, arados, abertos e expostos. Todos, um repertório extenso que me acompanha, incapazes do esquecimento, seja para o meu bem ou para o meu mal.
A vocês, meus fantasmas, a vocês, meus espelhos, a vocês, meus motivos, um minuto de silêncio.
A vocês, que são minha história, uma lápide, uma rosa e uma pá de cal.
A ancora se desfez na ferrugem.
A vida me espera.